18/06/2009

Morte 12 - Sonhos partidos

Lucíola Bretão era incapaz, extremamente incapaz de perceber que ninguém no mundo, mas ninguém mesmo gostava dela. Vejamos, talvez a mãe ou alguma amiga com vocação para Cristo, mas...... era improvável! E triste. Muito triste! Lamentável mesmo! Mas certas pessoas parace que nasceram pra isso; pra serem aquelas malas sem alças bem pesadas mesmo. Lucíola era assim.Certo dia, saltitante e cantarolante, Lucíola caminhava pelas alamedas em que nascera. Parou ao lado do tio da pipoca, senhor simpático qual Lucíola tinha em boa conta.- Como vai tio da pipoca?Nada.- Que foi tio da pipoca?Ele sem pestanejar uma vez. Nem moveu o pescoço.- tio da pipoca?! Eu gosto tanto do senhor. Você é um dos meus melhores amigos. Achei que fôssemos companheiros!O tio da pipoca finalmente saiu de sua letargia e com olhos rubros de raiva voltou-se para Lucíola vociferando:- Eu não aguento mais, menina! Você é a pessoa mais chata que eu já vi. Vem sempre aqui no meu carrinho e fica querendo puxar assunto. Você não percebeu que eu não te suporto? Aliás, ninguém te suporta nesse bairro. O japônes do mini-mercado não te aguenta. O português da padaria prefere morrer do que te encontrar na rua e o Bira da pizzaria corta um dobrado pra se esconder sempre que te vê passando. E não são só eles: sua mãe vive reclamando de você, dizendo que se não fosse da família já tinha te mandado embora de casa.Antes de terminado o discurso, Lucíola já chorava. Como? Como assim?, pensava ela. Ninguém me ama. Ninguém me quer. Ninguém me chama de meu amor. Foi pra casa e se matou com técnicas roubadas do ator norte-americano David Carradine, o Bill do filme Kill Bill.PS: Essa foi para todos aqueles que são segregados em suas vidas sociais. Crueldade tem limites!