Enquanto um tal de João de Santo Cristo sonhava em ser bandido, Lucíola Bretão sonhava em ser a mocinha da história. Mas eles tinham coisas em comum: o pai de ambos tinham morrido com um tiro e não entendiam como a vida funcionava, principalmente por causa da discriminação da sua classe e sua cor.
Então, juntos, cansaram de tentar achar resposta e compraram uma passagem direto para Salvador. O tempo passou e Lucíola não se sentia feliz. Lá não havia festa anos 80 e tão pouco João de Santo Cristo parecia com o Bon Jovi, então decidiu-se que com ele não se casaria.
Voltou pra São Paulo e tentou a vida como pode: estudou, deu aulas à crianças, mas desistiu ao se confundir com elas. Os problemas e sonhos da infância ainda não estavam superados. Ela queria mais.
A vida lhe foi boa e ela, muito esperta, deu um jeito de ferrar o tal chefe que era ruim e ela trabalhava como uma condenada e nem recebia por isso porque a empresa estava em crise e não pagava seus subordinados, mas um dia sua sorte virou e ela arranjou um grande emprego. Seria a chefe, mandaria em todos e para completar a felicidade arranjara um namorado.
Todos diziam que eles combinavam feito Eduardo e Mônica e ela acreditou. Mas para seus estagiários nunca falava dele. Preferia se vangloriar das conquistas e trapaças em relação ao seu chefe anterior na tal empresa que, dizia, não paga ninguém. Ou então das noitadas com o cover do Bon Jovi em uma balada que relembrava os anos 80. Ninguém entendia ao certo essa relação, mas ninguém dizia nada.
Até que um dia resolveram se casar e Lucíola achou que este era o momento ideal para ter seu dia de mocinha da história, ou melhor, seu dia de princesa. Mas não sem que esse sonho fosse completo. A lua-de-mel deveria ser, então, na Disney para que ela, princesa, pudesse conhecer seu castelo encantado.
Planejou tudo, contou os detalhes e fez os convites com a figura da branca de neve. Era a personificação total da persanagem. Lucíola não gostava de abstrações e por isso escolheu maçãs do amor para dar de lembrança em seu casamento. Pediu a uma amiga que preparasse e comeu a primeira de todas antes mesmo de se casar.
Mas então não esperava que o sonho de criança viraria pesadelo e a estória de conto de fadas tornasse-se a sua própria história. A maçã, envenenada, lhe cortou a respiração, sufocou as vias respiratórias, acelerou o coração e levou a Branca Lucíola Bretão de Neve ao sono profundo no caixão.
Como não tinha príncipe encantado não pode despertar enfim de seu sono profundo.