07/05/2008
Morte 4 - Shit Happens
Lucíola Bretão não podia acreditar no que haviam feito com seu carro. Ele estava tingido de marrom. Meu Deus! Começou a chorar. Era fim de tarde. Ninguém sabia o que havia acontecido, apenas as câmeras de segurança localizadas do lado de fora da empresa. A maçaneta, as portas, o teto, os vidros todos, tudo estava caprichosamente decorado com excrementos. Cocô de quem? Não se sabia. O cheiro era de bosta, com certeza. A cor também. A textura não havia dúvida. O gosto? Passou por sua cabeça provar, mas só passou. Um milésimo de segundo e logo foi embora. Pensou em sentar no meio fio e esperar o patrão descer. Apontar-lhe incrédula o acontecido e pedir demissão; sim, pedir demissão, porque ninguém merecia aquilo, nem mesmo ela. Não o fez. Precisava daquele emprego. Iria casar. Constituir família. Comprar um castelinho de areia e ir morar dentro dele. Despiu o casaco que lhe protegia do frio. Com ele fez uma luva disforme para sua mão. Abriu a porta e logo ao acomodar-se no acento, jogou o casaco na sarjeta. Uma pena se desfazer de tão bonita vestimenta tecida pelas mão enrugadas de sua vovozinha, mas onde iria guardá-la? Sujar seu carro por dentro também já seria demais. Virou a chave e deu partida no veículo. Devagar foi vencendo a inércia. Contudo não se via absolutamente nada, apenas uma paisagem com tons amarelos, marrons e pretos. Ejetou água sobre o vidro. Acionou o limpador de para-brisa. Movimentos compassados para direita, esquerda, direita... escavando a camada espessa de bosta que encobria seu pára-brisa. Uma semi-circunferência borrada surgiu e Lucíola, finalmente, pode enxergar a rua. Mais tranqüila, ligou seu toca cd e começou a balançar a cabeça horizontalmente ao ritmo da música. 50, 60, 70 Quilômetros por Hora e de repente, não mais, nem menos que de repente, um balde oriundo do céu despencou em cima de seu capô, espirrando o seu conteúdo no pára-brisa. Era merda, novamente. Lucíola se descontrolou, seu carro também. Zigue-zagueou pela rua, mas estabilizou-se; na contramão. Mais uma vez, com ajuda do limpador, Lucíola conseguiu avistar um caminhão que vinha na direção contrária. Desviou. “Ufa! foi por pouco”, iria pensar se no mesmo instante não colidisse com uma carroça que fazia tranqüilamente seu trajeto na pista contrária. Voaram seus dois passageiros: um menino e um homem que parecia ser seu pai. Com o impacto, o pangaré, força de tração do veículo rudimentar, foi jogado para cima, descrevendo uma parábola no ceú. Aterrissou no teto do carro, esmagando a cabeça de Lucíola. A poucos metros dali, o casaco de Lucíola era arrastado pelo vento forte que havia acabado de se iniciar. Um mendigo que passava por ali o viu. Achou a cena bela. Correu para agarrá-lo.
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2 comentários:
Puta merda!
O melhor é o título.
Risos
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